O gerenciamento de cor está indo além de suas questões técnicas e é hoje uma verdadeira ferramenta de gestão. Esse foi o grande destaque da live entre o diretor da FESPA Digital Printing, Alexandre Keese, e o consultor Marcelo Copetti, da Easycolor, que ocorreu no último dia seis de maio, no Instagram @fespabrasil.
A conversa começou relembrando os treinamentos promovidos por Copetti e Keese sobre cor e Photoshop, e como vem sendo para o consultor trabalhar em home-office. Copetti disse: “Estamos descobrindo muito, principalmente em tecnologia com um universo de recursos que não imaginávamos. Vejo que o home-office catalisou uma série de mudanças que aconteceriam apenas nos próximos anos. Estamos nos reinventando”.
Alexandre Keese concorda: “A realidade vai se moldando a cada dia, estamos vivendo um dia de cada vez. É um momento de extremo aprendizado, de lidar com novas tecnologias e com as situações que aparecem. E vamos levar na bagagem muitas experiências do que está ocorrendo”.
O gerenciamento de cores
Na visão de Alexandre Keese, hoje o gerenciamento de cores é muito difundido, mas ainda pouco utilizado.
Copetti reforça: “O gerenciamento de cor é uma ferramenta de produtividade. A gente sempre teve o discurso técnico, de ter a cor melhor, um trabalho mais adequado, melhor satisfação do cliente, mas o empresário viu que era “coisa do técnico” querendo empurrar, e não como importante”.
O consultor traz então uma nova abordagem para este tópico: “Vamos falar de gestão, e o gerenciamento de cores se encaixa nisso. Tudo que você não mede você não gerencia. Se você quer produzir com volume e baixa ociosidade de máquina, produzir a todo vapor, você estabelece métricas, normas, parâmetros, tudo isso gerenciamento de cores usa”.
“A grande dificuldade da qualidade também é o do gerenciamento de cores. A qualidade mensura aquilo que é subjetivo”, diz Copetti. É quando você tem duas amostras diferentes e pergunta qual está melhor. “Isso não é um processo de produção efetivo. Se você quer que a sua empresa trabalhe a produzir o mesmo resultado sempre, o gerenciamento é extremamente importante”.
O acerto da cor reforçando a marca
E ainda há mais um desafio atual: a baixa tiragem com a impressão sob demanda. “Vemos as empresas personalizando mais, mas você não muda tudo, muda características. Agora eu preciso de um lote de 100 peças. Daqui três semanas, outras 100 ou 200. E vai chegar o momento que seu cliente vai comparar os dois lotes e dizer: “Você não está me entregando a mesma coisa”. A falta de qualidade fica clara. E se você não tem constância no processo, você não tem qualidade”.
Keese trata da subjetividade quando o assunto é cor: “Temos o vermelho, por exemplo, da Coca-Cola e da Ferrari. Ambos são vermelhos, mas não o mesmo vermelho. E só consigo garantir se mensurar para ter essa certeza. E se eu quiser atender grandes marcas, elas vão falar exatamente a especificação, tirando a subjetividade do que é a cor. E você vai precisar atingir essa cor”.
Isso vai dos clientes grandes ao menores. Se um cliente pede 10 cartazes e quando vai fazer outra campanha precisa de mais 10, ele quer ter a certeza que terá seu logo reproduzido corretamente.
Copetti diz: “Para o cliente grande é padrão a cor perfeita. Duas caixas de sabão em pó, com lotes diferentes no supermercado com cores diferentes, podem indicar para um cliente que aquele produto não é bom. Ou até achar que é falsificado. Mas isso também vale para as empresas menores, até porque é preciso pensar que pra gente trabalhar no mundo real, 90% das empresas são pequenas e médias”.
O consultor ressalta que se você consegue produções maiores, você vai intercalar como produções menores. E é preciso fazer com que sua produção saia certo o tempo todo e consiga produzir sem parar. Ou seja, é preciso fazer o corte sempre, para todos os clientes.
O gerenciamento de cor e a gestão
Copetti ressaltou que está fazendo parte de um grupo que vem trabalhando para trazer novas informações ao mercado. “Vamos trazer informação nova e de qualidade”.
“Não consigo mais falar de gerenciamento de cor sem falar de gestão. Faço consultoria há anos e quando vou ao cliente olho como está o negócio dele. Faço uma análise geral, um raio-X da empresa”.
Copetti citou um exemplo clássico, que é a economia de tinta. Perguntou para o cliente por que ele vai trocar de tinta? Se vai trocar, tem que trocar pelos motivos certos. “Fizemos uns cálculos. Em uma impressão digital, o valor da tinta é de 1,5 a 6% do valor do produto final. Quanto mais caro for o seu produto final, menor o impacto da tinta no seu custo final. Aí, se a empresa troca a tinta sem critério, sem saber se gasta mais ou não, perde-se o entendimento”.
Alexandre cita outro ponto: “A otimização de tinta é possível em alguns softwares RIP, mas o que estamos falando aqui é o desempenho da tinta. E uma vez que você encontra a tinta com bom desempenho, volume de impressão melhor, aí entra com novas ferramentas de gestão para buscar a otimização”.
Para Keese, há dois lados do gerenciamento de cor: “Há pelo lado técnico, que precisa confiança, repetição, garantia de trabalho correto, ou seja, consistência no fluxo. Esse é o primeiro lado, o técnico. O segundo, quando pensamos no modelo de gestão: quando tenho controle e fluxo na minha mão, eu vou imprimir hoje e semana que vem sem precisar fazer teste, gastar máquina, gastar trabalho humano. E isso traz uma empresa mais lucrativa”.
A cor e o valor
“Quando a gente fala de tinta, é dizer por exemplo se é capaz de atingir aquele vermelho que você quer. E aí uma das coisas que falo é: vai trocar de tinta pra quê? Pra vender produto mais caro, valor agregado melhor? Esse é um bom motivo. Quando a gente fala de indústria como negócio, a gente fala de tempo de máquina rodando. É fazer os ajustes necessários e o gerenciamento é uma das ferramentas, para fazer sempre da forma correta, sem desperdícios e deixar a máquina rodando”, explica o consultor da Easycolor.
Gerenciamento de cor e o porte da empresa
Alexandre Keese destaca: “Se você quer ser uma empresa grande, o seu comportamento precisa ser grande. Então, todo porte de empresa precisa do gerenciamento de cores”. Isso precisa virar uma cultura dentro da empresa.
A empresa analógica, com offset, já tem gerenciamento de cor como parte de cultura, sabe que precisa fazer. Se não faz, é por falha de visão.
Mas o digital tem diversos benefícios de gerenciamento de cores. “Normalmente, o que vai ser tempo de setup grande na impressão digital? Colocar o suporte e vai imprimir, pronto. Você não precisa fazer grandes ajustes, vai pegar amostras do cliente, vai tentar chegar na cor, isso é setup grande. Gerenciamento de cores atende todos os portes de empresas, até porque quem é grande percorreu a trilha dos grandes. Viu o que era correto e faz igual”, reforça o consultor.
A mudança é totalmente perceptível: “Quando você não tem nada e começa a fazer as medições, o salto é de 50 a 60% de qualidade de imediato, com ações pequenas. Vai começar a te dar retorno de fôlego na sua margem de preço. Você vai perceber que estará voltando a trabalhar melhor, começando a ter lucro de volta. Vai ver onde está perdendo e analisar através de números e dados o próximo investimento para dar mais um salto de qualidade”.
Copetti ressalta algo fundamental: “Se você não medir, nunca saberá como melhorar”.
O gerenciamento de cores e as mídias
Sobre a relação do gerenciamento de cores com as mídias de impressão, Copetti ressalta que hoje é possível imprimir em tantos materiais que o termo precisa ser repensado: “Estou usando o termo suporte. A gente imprime em cerâmica, vidro, não cabe mais o termo mídia. Mas, quando a gente troca a cor do papel, não é só a cor do papel. É a resposta da mídia a toda a colocação da tinta. Você está trocando o resultado em todas as cores. Não adianta achar que o papel é mais amarelo e trocar a curva do amarelo. Se você mudar o amarelo, vai mexer também, o verde, o cinza, o azul, tudo”.
É preciso, claro, entender a diferença entre substratos, como o têxtil: “Na área têxtil em algumas áreas é preciso de corres saturadas, como a área de esporte. Porém, a pessoa tenta um excesso de tinta, sem fazer medição e perde horas. Às vezes é preciso reduzir a tinta para atingir o melhor resultado”.
E quando o tópico é um produto de valor agregado maior, há situações em que, tirando os erros de 1 a 3 trabalhos, você paga o gerenciamento de cores.
E não adianta buscar sempre o substrato mais barato: “A lona costuma variar de 5 a 8% do produto final em custo. Você tem muita coisa a acertar na sua empresa antes de trocar de lona por causa de 1 real a menos. Você vai ter variação, hora máquina perdida. E ao ver que tem variação, vai ver que não vai valer a pena”.
Fazer certo da primeira vez
Copetti relata como essencial fazer com que esses ganhos de produtividade estejam desde a primeira etapa da produção, para fazer certo da primeira vez e identificar problemas lá na frente. Em alguns casos, o erro pode estar na matéria-prima que não está igual. Mas, se você não medir, não poderá provar e cobrar o correto.
Por isso, é preciso fazer uma análise de cada cenário, pois cada empresa tem suas particularidades: sua cultura, máquina, RIP, tinta, história e objetivos diferentes. Não só no gerenciamento como em todos os passos, é preciso ver a necessidade para saber exatamente qual será a demanda.
Keese destaca que o gerenciamento de cores é um caminho sem volta: “Quando começa a usufruir, não para nunca mais. É um embalo de produtividade maravilhoso. E tem o lado do vendedor: conversando com o cliente, ele tem a segurança que o produto que vai ser entregue vai dar certo. A força e argumentação de venda têm impacto direto”.
Em resumo, pode-se dizer que o gerenciamento saiu da plataforma técnica foi para o coração da empresa, é essencial! E o gerenciamento de cores funciona para garantir que seu cliente estará satisfeito. E, quando ele satisfeito ele volta e se torna, de verdade, seu cliente!
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