Nós aqui na FESPA Digital Printing sempre ressaltamos que o empresário que busca as melhores informações está sempre melhor preparado para encarar os desafios que o mercado coloca e consegue inclusive se antecipar ao que pode surgir. Há várias formas de se preparar, como participando de uma feira, pois ao visitar você tem contato com um mundo de possibilidades, vendo tecnologia e trocando informações com visitantes e expositores.
Nas redes sociais, há diversos profissionais que passaram e seguem enfrentando estes desafios e estão dispostos a ajudar outros empresários para que estes consigam superar cada obstáculo que surgir e ser mais eficiente e lucrativo.
É o caso de Luana Gonçalvez Dias, que passou por muitos momentos importantes em sua trajetória no mercado e, para compartilhar sua vivência e assim ajudar quem está começando ou quem deseja crescer na área de gráfica rápida, criou o projeto Dona de Gráfica no Instagram. O objetivo é dar dicas sobre o dia a dia de uma gráfica e também como conciliar carreira e vida pessoal, especialmente no caso das mulheres executivas e donas de gráficas. Confira uma entrevista especial com Luana e conheça o projeto Dona de Gráfica!
- Como você começou na área gráfica?
Eu comecei a minha carreira em um banco, com uma boa posição. Sempre trazia resultados e batia metas, mas comecei a me sentir desvalorizada. Então, como sempre tive uma veia empreendedora, comecei a olhar ao redor.
Meu pai tinha duas lan houses, mas ele vendeu uma delas e transformou a outra em uma gráfica rápida, surgiu então a Lancopy. Eu comprei de volta a lan House que ele havia vendido e transformei em gráfica rápida também. Mas eu não tinha habilidade para imprimir, não sabia nada de artes gráficas.
Eu ainda tinha um concorrente bem na minha frente, então o começo foi muito difícil. Foi então que percebi que não daria conta de brigar por preço, eu precisaria oferecer qualidade e diferenciação. Foi assim que comecei, ainda em 2013.
A partir de 2015, entrei no digital com uma conta no Instagram. Não queria vender impressão, e sim o que posso fazer a partir das minhas impressões. Comecei a produzir para noivas, para mães, com o maquinário que tinha na época. E percebi que o cliente online não tem a mesma preocupação com preço.
Quando a pandemia chegou, mesmo com todas as dificuldades, o que eu havia plantado nas redes sociais eu consegui colher, tive um boom por conseguir vender esta diferenciação e qualidade. E meu concorrente, infelizmente, acabou fechando.
- Como é ser uma mulher no comando de uma empresa gráfica?
É algo muito desafiador. Ainda há os que duvidam da capacidade da mulher, que ela pode ter um negócio próspero, que pode implementar algo diferente e se destacar no mercado. Tem pessoas que não acreditam. A ficha custa a cair para acreditarem que sim, a dona é uma jovem mulher.
Mas há também outro lado: nós mulheres precisamos deixar de lado a crença que precisamos mostrar criatividade demais ou até mesmo passar a ser masculinas. Está tudo bem ser assim, se é parte da essência. Só que, a minha não era! E já adotei esta imagem de criativa no meu passado, porque achava que assim iria atrair mais clientes. Eu estava errada! Até foi legal para atrair mães e vender itens de festa, mas não seria isso a chave para o sucesso. Podemos sim, ser mulheres, fortes, femininas e donas de gráfica!
Sabe por quê? Para atingir um mega cliente corporativo, por exemplo, é perigoso exagerar nesse arquétipo de criativa. Pois, pode comunicar infantilidade. Percebi que eu precisava de uma imagem de credibilidade, confiança e força. Mas, sem deixar minha essência que sempre foi bem feminina! Essa "virada" foi importante, pois aliou minha personalidade com a imagem estratégica para o negócio! Minha gráfica, ao longo dos anos, se tornou lucrativa, conquistou e fidelizou ótimos clientes. Tenho uma pequena empresa, mas atendo grandes empresas e até multinacionais, desde 2016.
- Você já está há um bom tempo na área de gráfica. Você enxergou um aumento no número de mulheres nesta área?
Vi mais mulheres no mercado sim, e elas estão sedentas por capacitação e querendo ouvir outras mulheres. A minha equipe hoje é 80% feminina. A mulher possui uma habilidade de desempenhar múltiplas tarefas muito válida para este ramo em que atuamos. Quem conseguir aplicar isso em seu negócio vai gerar habilidades importantes e valiosas para atingir crescimento, tanto pessoal como empresarial. Mas, se visitamos uma feira, por exemplo, ainda é nítido a discrepância do número de mulheres e homens no ramo gráfico.
- Qual seria a “dica de ouro” que você daria para quem se interessou pelo nicho de gráfica rápida mas ainda tem uma insegurança sobre como começar?
Eu penso na analogia de um maratonista, em que a constância é melhor que a perfeição. Não adianta esperar as circunstâncias ideais, elas não existem. Qualquer passo é importante para empreender ou para decidir quem você deseja ser no futuro.
Nunca vai existir cenário confortável ou ideal. E todo investimento envolve risco. Mesmo com investimento baixo, não será só dinheiro: é tempo, esforço, sonho e, para isso, precisamos fazer renúncias.
Temos que ter disposição porque o negócio iniciante é um bebê, vai precisar muito de você no início. Então minha dica é que você participe da feira para estar próximo das pessoas que já percorreram o mesmo caminho que você vai percorrer. Os contatos que você faz na feira são para a vida.
- E para quem já começou, mas acabou “empacando” e não conseguindo avançar em vendas, qual conselho você daria?
O caminho é árduo sim, já tropecei em muitas pedras. Mas, o que me trouxe até aqui, foi a persistência frente aos desafios que iam surgindo. Eu era uma menina imatura e acostumada com um salário bom e garantido, quando comecei. Trabalhei, cai, levantei e me esforcei muito. Em 2020, queria fechar minha empresa. Mas, se eu tivesse feito isso não estaria onde estou hoje e sei que é difícil acreditar quando você não vende bem. Alguns pilares em que acredito:
- Quem não conhece muito da área de impressão sempre pensa que a “impressão está acabando”. Como é o seu trabalho para mostrar o poder da impressão?
A visão dessa pessoa é a de quem não enxergou as possibilidades que o mercado de impressão traz. A minha visão é de crescimento, isso eu posso falar porque eu estou crescendo.
Mas há hoje um perfil diferente, um cliente mais exigente. Há uma transformação ocorrendo e é preciso estar atento para que seu negócio seja adaptável e possa crescer. Quanto maior é a exigência do público de querer algo bem feito, mais ele está disposto a pagar.
Por exemplo, hoje podemos oferecer não só o adesivo, mas o adesivo UV, que vou vender com alto custo, mas porque ele tem uma durabilidade alta.
A impressão não está acabando, o que muda é como se enxerga a impressão. Se você for trabalhar igual a vida inteira, aí a impressão vai acabar. Vivemos a era do conhecimento, temos de nos adaptar. Quem não se adaptar acaba ficando para trás. Por mais que possa doer sair da zona de conforto, é preciso fazer as coisas de um jeito diferente, não só para continuar mas também para crescer.
- Por que você decidiu começar o projeto Dona de Gráfica?
O digital sempre foi um pilar forte para mim. Em 2015, comecei o Instagram da Lancopy. Sempre foi importante e sempre levei a sério.
Era um instinto de sobrevivência, pois tinha um concorrente na frente. Comecei o trabalho de formiga. Em 2020 veio a pandemia, nós fechamos mesmo e ficamos muito tempo fechados. E conta vencendo, aluguel, salários, compromissos…
Peguei minhas coisas e fui para casa pensando em de fato em fechar. Até que um dia estava em casa, montei escritório e vendo as coisas do financeiro, uma cliente ligou. Ela falou que acompanhava meu trabalho e como o Dia das Mães estava perto e ela não estaria em Belo Horizonte, perguntou se eu não poderia montar uma cesta e entregar na casa da mãe dela. Eu não fazia aquele serviço, então chutei um valor absurdo e ela aceitou o valor. Aí acendeu a luz e vi que havia uma oportunidade ali.
Fiz fotos, comecei a divulgar no Instagram. Isso na quarta-feira que antecede o domingo das mães.. Foram então 3 noites sem dormir e 3 dias sem parar para comer. Era uma demanda no mercado na época, as pessoas queriam valorizar quem ama, procuravam um presente afetivo e não podiam sair de casa, estava tudo fechado!
Então, inclui cartões personalizados com foto, foto imã, canecas e vendeu um volume inesperado. A partir disso comecei a colher os frutos consideráveis desse trabalho nas redes sociais que iniciou lá atrás.
Grandes empresas começaram a me achar no Instagram. No caso de uma delas, os funcionários estavam em home office e a empresa queria presentear o time no meio de um evento digital, no qual iria divulgar que foi vencedora do prêmio de melhores empresas para trabalhar. Então a solução foi montar um kit de endomarketing com produtos personalizados, entregando na casa de cada funcionário.
Em Junho seguimos, neste formato, porém no dia dos Namorados. Abriu-se um leque de possibilidades. Vieram mais dois fins de ano, sem a possibilidade de confraternizar. Mas, o mundo corporativo, queria fazer algo para seu time. Agregamos até mesmo a logística, porque precisava vender solução de alto valor agregado. Como tudo estava parado, eu fazia todo o processo criativo com eles, a aprovação do piloto de cada kit, a produção, a montagem com os mais diversos itens e a entrega.
A realidade da dona de gráfica é de estar muito atolada em processo operacional e não ter visão estratégica. Só que isso veio intrínseco em mim. E do limão fiz limonada. Isso porque seis anos antes eu acreditei no poder do digital.
Mudei minha empresa, coloquei novos equipamentos, foi uma outra empresa que nasceu na pandemia. Nesse tempo, eu já gostava de produzir conteúdo em rede social sempre postava dicas de empreendedorismo no meu perfil pessoal.
A partir disso, comecei a perceber que donas de gráfica e donos de gráfica foram acompanhando, pedindo ajuda. E uma amiga me disse: Lu, é para eles que você precisa falar. Nessa conversa veio o insight de @donadegrafica
Eu tenho cicatrizes, é bom ajudar outras mulheres. Eu não tinha noção da quantidade de mulheres trabalhando nessa área. Na minha cabeça, quem era dono de gráfica era homem, pensei que iam rir de mim.
Comecei tudo recente, não tinha noção da dimensão e aceitação, o perfil está crescendo de forma exponencial, alto engajamento e enorme quantidade de mensagens que estou recebendo, contando as mais diversas histórias. Em pouco tempo, já formamos uma comunidade!
A partir disso, enxerguei um propósito. Pela minha visão a gente vai fazer história. Já tem marcado muitas empresárias de impressões.
- Quais conteúdos as pessoas da área vão encontrar no Dona da Gráfica?
Eu falo muito do caminho que passei, a transformação, os erros, acertos e também os aprendizados. É um conhecimento prático que não aprendi na faculdade. Estou dividindo o método de trabalho que desenvolvi ao longo de 10 anos de caminhada com impressões.
A minha preocupação é que o mercado está carente de estratégia de venda assertiva. Muitas mulheres têm gráficas, mas não sabem sobre estratégia de marketing, vendas, gestão e liderança.
Elas se prendem ao operacional apenas, aí sentem que não crescem, e não são felizes porque não têm tempo. Outras se sentem cansadas, desvalorizadas e pensando em desistir. Muitas tem um retorno financeiro legal, mas não conseguem tempo livre para si mesma e para a família.
É preciso saber dizer não, saber filtrar os serviços e produtos rentáveis, saber delegar, como vender para o cliente certo de valor agregado.
Precisamos ser mulheres que vivem DA nossa gráfica e não PARA a nossa gráfica. Por isso, estou presente diariamente nos stories e faço duas lives semanais, baseada nas dúvidas que elas levantam.
- Quais as expectativas suas para a FESPA Digital Printing?
Estou com muita expectativa, a feira presencial é uma oportunidade de expandir horizontes.
Em 2023, vou conhecer de perto tendências de mercado, inovação tecnológica, máquinas, novos fornecedores, parceiros, e terei muita oportunidade de fazer networking.
Vai ser uma honra ter este espaço para representar as mulheres da área gráfica.
- Qual a importância de estar presencialmente em contato com outros profissionais da área?
Sempre volto da feira com uma bagagem cheia de conhecimento, não só técnico como insights e possibilidades para usar o ano todo. Para a Lancopy, sempre compramos muito em feiras.
Alguns acham que tudo está na internet, mas não está. A internet tem muita coisa, mas nem sempre se acha o parceiro correto.
E vivemos em um mercado que percebo insegurança da pessoa em relação a investimento. Não sabe qual máquina, como começar, qual área, porque não investe em conhecimento.
Estar em uma feira envolve tempo, deslocamento, mas uma feira é o ambiente ideal para conhecer, ver demonstração, ter acesso a condições especiais e ter algo que podemos comparar.
Tendo a dúvida de qual máquina escolher, é possível ver as demonstrações, conversar sobre matéria-prima, ver funcionamento, tudo muito fácil, no mesmo local.
Além disso, é uma atmosfera para sair completamente da caixa, com a possibilidade de aprendizado por meio de palestras e debates.