Começou nesta terça-feira a 4ª edição do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica, pela primeira vez online. O dia inicial contou com o ambientalista João Paulo Capobianco falando de sustentabilidade, o especialista Luiz Serafim abordando como inovar para superar todos os obstáculos, o diretor da FESPA Digital Printing Alexandre Keese tratando dos avanços da impressão digital e o britânico Martyn Eustace destacando o trabalho de Two Sides para a conscientização sobre o uso do papel.
O 4º Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica foi aberto pelo presidente da ABTG (Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica), Carlos Suriani. Ele falou da oportunidade única da indústria gráfica assumir o protagonismo dentro da economia circular e buscar produtos e soluções que gerem menor impacto no meio ambiente. Logo após, Bruno Mortara, diretor técnico da ABTG, deu as boas-vindas aos presentes e apresentou o responsável pelo keynote, o ambientalista João Paulo Capobianco.
Referência mundial em meio ambiente, Capobianco destacou que o engajamento da sociedade no tema ambiental é um dos tópicos mais disruptivos que acompanhamos atualmente, com uma preocupação cada vez maior dos brasileiros em relação à consciência ambiental. Pesquisas apontam que os brasileiros estão mudando hábitos de consumo para reduzir o impacto no meio ambiente, se preocupam com a composição dos produtos, buscam informações sobre a empresa produtora e deixam de comprar caso considerem algo inadequado.
Uma pesquisa de 2020 feita no Brasil pelo Instituto Akatu mostrou que 80% das pessoas consideram que foram muito ou razoavelmente afetadas pelas mudanças climáticas. O estudo também mostrou que a maioria dos brasileiros considera que devemos responder às mudanças climáticas com a mesma urgência que lidamos com a questão da Covid-19.
Mais de 70% dos consumidores esperam que as empresas não agridam o meio ambiente, seja garantindo que suas operações, produtos e materiais não agridam a natureza, seja atuando com firmeza para reduzir o impacto das mudanças climáticas. Outro dado é que, ainda no Brasil de 2020, 44% chegaram a comprar um produto por ver que a empresa é ambientalmente responsável, uma espécie de “recompensa”.
Isso mostra que a população está sensível e engajada com as questões ambientais. Com isso, a responsabilidade socioambiental e as crescentes demandas do consumidor exigem respostas. E quem avançar e oferecer sinais claros e concretos, com ações objetivas em sua atuação, terá uma grande vantagem competitiva. As empresas passarão a ser mais avaliadas por finalidades de natureza ética, indo além da visão apenas dos balanços financeiros.
Onde estamos mais avançando, diz o especialista, é na economia circular. Deve-se fazer a pergunta: o que vai acontecer com o que eu produzo? João Paulo finalizou relatando que todos precisarão ser conscientes com todo o processo de produção, do início ao fim, especialmente em seu destino, depois que ele sai da fábrica ou empresa. É preciso antecipar soluções e implementar ações para atender aos anseios da economia circular.
Inovação
Luiz Eduardo Serafim atua na área de marketing da 3M e é um agente de inovação, tanto dentro da companhia quanto rodando o Brasil disseminando informações sobre como uma empresa consegue se tornar inovadora - e de forma sustentada.
O primeiro ponto para uma empresa ser inovadora é que as pessoas que dela fazem parte tenham pensamento inovador. Mas o que é inovar? É pensar em como criar algo de valor percebido, que vá além de ser interessante e seja de fato impactante e transformador.
As organizações precisam olhar a jornada do cliente, entender as necessidades e buscar melhorar a experiência. “As empresas possuem ferramentas para melhorar o olhar e buscar como agregar valor nessa jornada, seja em atendimento, logística, entrega ou qualquer outra operação”, diz Luiz.
As empresas precisam transformar as operações tendo sempre em vista os novos tempos. E lembrar que não se pode inovar por inovar e que o mundo muda. A inovação tem que ser vista também como a ponte para uma nova proposta de valor através do cenário presente e como seguir levando valor no cenário futuro. Esses cenários necessitam sempre ter o ser humano no centro de tudo.
Observar as tendências e se adequar a elas é obrigatório para se manter competitivo e não se tornar obsoleto. Entre elas, está o “mundo híbrido”, com a mistura de digital e físico deixando de ser uma tendência ou novidade e tornando-se uma realidade.
Luiz falou também sobre a transformação digital, com os novos conteúdos e os eServiços. É não deixar de pensar em pontos físicos, mas planejar como criar valor nos ambientes digitais. Isso se tornou mais latente com a pandemia, com compras online, aulas virtuais, novos aplicativos, webinars e outros.
Em resumo, as empresas devem implantar uma cultura de inovação, que inclua pensamentos de transformação, liberdade, diversidade, tolerância ao erro, estando em constante aprendizado, com colaboração e ética.
Novos conceitos na impressão digital
Alexandre Keese, diretor da FESPA Digital Printing e especialista no mercado de impressão, mostrou o avanço da indústria nos últimos anos e quais caminhos devem guiá-la para os próximos, inclusive com o impacto do que foi citado nas palestras anteriores: a visão inovadora e a conscientização com o meio ambiente.
A realidade do mercado, explica Keese, está na redução de tiragens, aumento na quantidade de trabalhos e redução de preços. Isso faz com que as empresas do segmento busquem como ser cada vez mais eficientes, produzindo mais e melhor para seguirem lucrativas. O ponto central é eficiência: em gestão, pessoas, processos e vendas.
O setor passou das artes gráficas para a indústria gráfica e hoje é considerada comunicação gráfica. Isso porque a visão hoje é que as pessoas não consomem o simples produto impresso, e sim o que ele representa. Isso é visto no dia a dia e ficou ainda mais claro na pandemia: a impressão na educação, na embalagem, para nossa proteção, para vendas, entre outras possibilidades.
É o caso, por exemplo, dos adesivos no chão informando o distanciamento. Há empresas que aproveitaram e fizeram propagandas com os adesivos, agregando ainda mais valor ao impresso, que além de oferecer proteção pode ser usado para buscar aumento de vendas.
A impressão passa por mais uma mudança: a customização. Isso vem da exigência do cliente com demandas cada vez mais específicas, seja por velocidade - de produção e, principalmente, de entrega, além da qualidade sempre como ponto essencial e com o acréscimo da personalização, sejam pelas tiragens menores, com impressões sob demanda ou até no impresso único, 100% customizado.
Alexandre Keese destacou dados do FESPA Print Census, uma importante pesquisa sobre o mercado de impressão digital no mundo (inclusive com participação do Brasil) e seus caminhos. Ele relatou, por exemplo, alguns focos de investimentos dos empresários do setor nos últimos dois anos. Há aquisições em soluções de e-commerce, ferramentas de interatividade, treinamento em gerenciamento de cor e edição de imagens, tudo para atender as necessidades dos clientes.
E, para alcançar essas demandas, uma palavra surge: transformação. Assim como nosso ambiente, estamos sempre nos desenvolvendo, sempre evoluindo. Temos que ter o mesmo pensamento dentro das empresas. Isso porque há necessidade de entregar o produto em menor tempo, reduzir o custo de aquisição, aumentar a variedade de produtos e sempre buscar como economizar e ser mais sustentável.
E não dá para fazer o mesmo esperando resultados diferentes. Para atingir todos esses pontos, mais um termo relevante entra na jogada: tecnologia. Ela oferece redução do tempo de preparação do arquivo e da preparação do equipamento para a produção. Hoje é necessário cada vez menos folhas para iniciar a produção. Isso resulta em redução de custos operacionais - seja fabricação, armazenamento ou pessoal.
Porém, quando se fala em tecnologia na impressão, vem o pensamento na tecnologia de impressão digital. E sempre uma ideia de que o digital vai substituir as outras tecnologias. E não é isso. O digital vem, em boa parte, para a busca de novos mercados, ou seja, na busca de novos negócios e novas receitas.
A impressão digital agrega, traz mais possibilidades e aumenta o leque de soluções oferecidas, ultrapassando barreiras para atender a necessidade cada vez mais transformadora dos clientes. Na impressão digital, há uma descentralização da produção, com benefícios no transporte e entrega.
Há uma independência econômica da tiragem mínima. Ou seja, posso imprimir a partir de uma cópia: um impresso totalmente individualizado e, claro, criativo, oferece uma comunicação única com o cliente. Isso é um diferencial quase imensurável.
Avançando agora para dentro da impressão digital, mais um termo surge: industrial, com a combinação de volume e personalização. A impressão em nível industrial está presente nos mais diversos produtos, embalagens, superfícies decorativas, têxtil, cerâmica, decoração, papel de parede, indo até aos eletrônicos impressos.
O industrial, então, mudou a agenda de impressão de massa para a customização em massa. São grandes volumes personalizados e segmentados. Hoje, então, temos uma impressão sob demanda, seja nas baixas ou altas tiragens. E tudo isso dentro de um ponto fundamental: serviço. É mais do que imprimir produtos, é oferecer solução ao problema do cliente.
A ideia central é levar uma nova experiência do cliente. Isso pode, claro, ser alcançando de diferentes formas. Mas na impressão customizada e com uso de dados variáveis, na impressão 1:1, isso fica muito visível. Um exemplo é o mercado de fotolivro, sempre único e especial.
Como um novo ingrediente, o mundo online faz com que passemos a encarar um mercado híbrido, na mistura do físico e digital. Por fim, o segmento está em transformação, o que traz como ponto base o pensamento constante em novos modelos de negócio, e sempre o pensamento em não apenas vender produto e sim vender uma solução. E mais: oferecer a solução completa, começando pelo atendimento, com o melhor produto e com o serviço ideal. O cliente é o foco, você é o facilitador e precisa ajudar na criação de valor.
O papel e a sustentabilidade
Martyn Eustace finalizou o primeiro dia do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica contando a história da Two Sides e o que a entidade está fazendo no momento. Logo de início, citou por que todos devemos contar a incrível história da produção de papel para combater as informações falsas sobre desmatamento.
Há muitas mensagens falsas falando sobre preservar as florestas parando de usar papel e outras mentiras. Em estudo recente, perguntaram para as pessoas na Europa sobre isso e o resultado foi: mais da metade acreditava que a produção de papel usa quantidade excessiva de água e também mais da metade acreditava que a comunicação eletrônica é melhor para o meio ambiente; e 63% acredita que só o papel reciclado deveria ser usado.
Isso mostra que é preciso fazer com que a nossa história seja compreendida. Esse é o grande objetivo da Two Sides, fundada em 2008 e presente no Brasil, agora expandindo por toda a América Latina. O que a Two Sides quer é quebrar esses mitos. Martyn mostrou exemplos.
Um deles é que papel é um produto cheio de resíduos, quando na verdade é um dos produtos que mais se recicla no mundo. No Brasil, 67% do papel é reciclado. Outro mito é que a comunicação eletrônica é melhor ao meio ambiente do que a comunicação baseada em papel. Na verdade, são mais de 300 milhões de toneladas de CO2 por ano em emissões totais geradas por envio de e-mail. Há ainda uma quantidade enorme de lixo eletrônico no meio ambiente.
Mais um mito é que as pessoas preferem a comunicação online. Porém, a grande maioria prefere ler em impresso. 69% acredita que a impressão é a forma mais agradável de ler livros e 61% de ler revistas.
E o que Two Sides faz? Lida com as declarações enganosas, abordando quem aposta nas informações falsas e pedindo retificações explicando os dados corretos. Há vários casos de sucesso no mundo e pelo Brasil em que as empresas corrigiram as informações falas sobre o papel que haviam transmitido.
Outra abordagem da entidade é tranquilizando os consumidores, garantindo a eles a sustentabilidade da nossa indústria através de campanhas com fatos e informações, como a Love Paper, que vem alcançando mais de 10 milhões de pessoas mensalmente.
A campanha possui uma série de atividades educacionais, artes diversas e materiais informativos para que todos possam também divulgar essas informações, inclusive sendo possível personalizar se necessário. No Brasil, há uma série de iniciativas, como calendários, o informativo The Page, entre outros itens.
Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica
O Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica está em sua quarta edição e é uma parceria ABTG (Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica) e APS Eventos Corporativos. Pela primeira vez online, acontece nos dias 24, 25 e 26 de novembro. O Patrocínio Institucional é de Afeigraf, Fedrigoni e Papirus. O Patrocínio Gold é da Valid. Informações sobre inscrição e detalhes da programação estão disponíveis no site: www.congressotecnologiagrafica.com.br.